4 de dezembro de 2011

E como vai o trabalho?

Olá pessoas,

Passei do meu primeiro mês no trabalho e acredito que agora consiga falar com mais prioridade sobre o assunto.
Como o assunto trabalho gera muitas dúvidas e esse post parece que ficará grande, vou dividir em pedaços para ajudar no entendimento.

Francês/Inglês no trabalho

Quando conto que trabalho com informática e mais especificamente programação, todos falam sobre as facilidades que normalmente esses profissionais têm na integração profissional. Um dos motivos sempre apontados é que, como programamos em linguagens específicas e internacionais, o francês/inglês não são prioridades na contratação. Atualmente o Brasil passou por uma missão do Québec, para encontrar profissionais de TI para virem trabalhar em Ville du Québec. Muitos reclamaram por não terem passado “só porque não tinham o francês ou o inglês tão bons”.
Esse tipo de argumento cai por terra quando sabemos que para passar em uma entrevista você precisa conseguir se expressar de maneira clara o suficiente para que o entrevistar compreenda todo seu histórico profissional.
Além disso, o trabalho em equipe é essencial e será praticamente impossível se seu francês ou inglês não for relativamente bom, o mesmo para os relatórios que você deverá ler, entender e escrever, reuniões que deverá participar e pontos de vista que deverá defender.
Perceba que eu coloquei a todo o momento as duas línguas “Francês e Inglês”, e isso mostra bastante sobre essa minha experiência enriquecedora. Aqui em Montréal é muito comum ouvirmos o inglês em todo canto, e existem muitas pessoas que são somente anglófonas. Na empresa que trabalho, se você não sabe falar muito bem francês, você será diretamente cobrado no inglês o que gera uma dinâmica particular para a empresa. Mas para não existir desculpa à não utilização do francês, existe a “francisação em meio profissional” (o que significa que a empresa sede suas instalações para o governo ensinar francês para os funcionários). Tudo isso porque existe uma lei aqui no Québec que todas as empresas com mais de x funcionários devem oferecer o curso de francês para os funcionários.
No meu primeiro dia já fiquei sabendo que toda semana teríamos reuniões com toda a equipe de tecnologia (da matriz e filiais) para falarmos sobre nosso trabalha na semana anterior e o que pretendemos fazer na qual nos encontramos. Essas reuniões são em inglês, não tem alternativa por estarmos ligados com a filial em Toronto.
Na minha segunda semana já fizemos um curso pago pela empresa para que nos certificássemos na linguagem de programação que trabalharíamos. Ou seja, com duas semanas já fui cobrado que entendesse, estudasse e no final fizesse uma prova ao mesmo tempo em que todos os outros funcionários para medir meus conhecimentos, independente se eu sou imigrante e não tão proficiente no francês. A cada final de módulo (eram mais ou menos 3 módulos por dia), tínhamos rodada de perguntas, onde o professor nos questionava sobre o conteúdo aprendido e tínhamos que dissertar sobre a teoria e suas utilizações.
Depois quando fui pegando mais responsabilidade foram chegando relatórios para escrever, reuniões para participar sobre os novos projetos e explicações a dar aos outros coordenadores das mais variadas equipes. 
E tudo o que somos obrigados a escrever na empresa, devemos fazer nas 2 línguas do país. Em inglês por causa da filial em Toronto e em francês por estarmos no Québec e sermos obrigados a tal.


Relações profissionais

No curso que fizemos pelo MICC quando chegamos ao Canadá, fomos avisados sobre algumas particularidades da relação profissional e muitas delas achei que eram inventadas. Minha surpresa foi vê-las no dia-a-dia.
É muito incomum encontrar alguém que chega ao trabalho e vai distribuindo “Bom dia” para todo mundo que encontra pela frente. Só vi isso uma única vez e era um imigrante vindo da nossa querida América latina. O normal é cada pessoa chegar em silencio e sair em silêncio, muito provavelmente falando o bom dia e o até amanhã só para as pessoas que estão ao seu lado.
No horário do almoço, quase todas as pessoas levam a famigerada marmita (do presidente da empresa, passando pelos diretores e qualquer outro funcionário) ou você pode comprar comida nos restaurantes e trazer a “quentinha” para comer na sua mesa. Enquanto a pessoa está comendo, não adianta perguntar alguma coisa do trabalho, ela não te responderá (hora de almoço não é hora de trabalho).
Com tudo isso, vocês podem me perguntar “Mas em que momento você conversa, bate papo e conhece seus colegas de trabalho?”. Para isso que existem os 5@7 (Happy hours que começam às 5h e terminam às 7h), onde todos se encontram, conversam e riem. Esses momentos são muito importantes para nos entrosarmos com os outros funcionários e colegas de trabalho.
Uma coisa que tinha ouvido no curso do MICC e vi na prática é que, alguns encontros fora do 5@7 (em final de semana por exemplo) devem ser atendidos por todas as pessoas convidadas, ou seja, se 5 pessoas resolveram se encontrar no sábado para ir no parque e por algum motivo especial 1 delas não pode nesse dia, o passeio será cancelado! Isso é algo incrivelmente novo pra mim, meio avesso a farras no final de semana com pessoas que ainda não tenho intimidade...
Os atritos também são evitados ao máximo, então isso gera certa dificuldade na hora do chefe ou diretor fazer uma crítica. Nesses momentos acontecem a tal “crítica sanduíche”, ou seja : “Elogio + Crítica + Elogio”, sendo que o assunto real era a tal crítica. “Ô fulano, o sistema que você desenvolveu está bem feito, uma pena que você não tem conseguido acabar seus projetos no prazo, mas quando os entrega tudo está igual o pedido pelo cliente, parabéns”. Nessa frase você tem que notar a crítica e agir de acordo para evitá-la das próximas vezes, para não levar um susto caso isso seja o motivo da demissão. O que nos leva para o último bloco:

Direitos trabalhistas

Como muitos sabem, a história de Vale Refeição e Vale Transporte não existe por aqui, por isso também que as pessoas levam a marmita feita em casa, mas existem outras diferenças.
Existem empregos que não possuem contrato, sendo que a prova do seu trabalho é o seu hollerith e ele deve ser guardado muito bem. Eu assinei um contrato, mas esse contrato tem um sentido maior de me informar sobre o que eu não posso fazer do que realmente falar dos meus direitos. (isso porque parte-se do princípio que todos estão abaixo das mesmas regras, podendo ser encontradas aqui)
E se na contratação a burocracia quase não existe, a mesma coisa acontece na demissão. Não espere muito respeito ao “Aviso prévio”, multa ou qualquer outra regra que “protege” (e aí eu coloco muitas aspas pois poderia começar uma discussão aqui se , no Brasil, esse tipo de regra realmente protege alguém de alguma coisa) o trabalhador ou a empresa na saída do funcionário.
Nesse meu 1 mês de trabalho 3 pessoas foram demitidas e 2 foram contratadas. Tudo acontece de uma hora pra outra, sem muito alarde. Por esse motivo eu escuto vários imigrantes falando que não se sentem profissionalmente seguros aqui no Canadá (a não ser que você faça parte do sindicato), mas eu ainda não possuo uma opinião formada sobre o assunto. Todavia uma coisa é verdade, nenhuma empresa é obrigada a ficar com algum funcionário que não precisa ou não quer, e não existirá muita “cerimônia” para a tal demissão. E lembrem-se que eles evitam o atrito, então a tal crítica sanduíche acontece mesmo nesse momento.

Conclusão

Depois de tudo isso escrito eu digo que ainda é cedo para tirar uma conclusão do meu trabalho. Tenho gostado de todas as pessoas, do ambiente, mesmo quando ele se torna estressante. Já passei por todos os estados emocionais possíveis relacionados ao trabalho, e agora estou mais calmo, passando as semanas, notando o que realmente importa.

E como tenho costume de falar : o saldo continua muuuito positivo.

Até mais

8 comentários:

Que bom saber que voce está se dando bem no trabalho! A adaptação é dificil, mas vejo que voce vem se saindo muito bem!
Abraço com saudade.

Olá Jhon
Belo post!
Bem esclarecedor, espero que continue relatando sua adaptação ao ambiente profissional!
Me diz uma coisa: as pessoas levam a marmita porque é caro ir almoçar fora, pq não tem onde comer ou porque não há um "horário de almoço" ??
Abraço

POST MARAVILHOSO!

Muito obrigada pelos detalhes contados, as vezes e muitas vezes as pessoas não contam as dificuldades e detalhes que viveciam e são justamente esses que fazem a diferença.

O meu marido é da area de TI e ele agradecer pelos comentários a respeito da area.
Merci.

Olá, "Vemjunto".

Podem existir as três situações descritas por vc, depende da empresa e da região. Na minha empresa nós fazemos uma hora de almoço e há opções para almoçar por perto, mas mesmo assim as pessoas preferem levar suas marmitas, pois acaba sendo mais saudável e barato.

Abs.
Jhon

Oi, Jhon!

Muito bom o seu post, bem completo. É muito legal, pra quem tá aqui no Brasl ainda, poder ler relatos assim, super informativos. Parabéns! (Pelo post e também pelo emprego)

Abraços,
Lídia.

Ola Jhon,

Também gostei bastante do post e decidi assinar seu blog. Estou na etapa final do processo, mas ainda em São Paulo. Também sou da área de TI e fiquei apenas com uma dúvida.. Vcs desenvolvem em que especificamente ai na sua empresa? Nosso destino também é Montreal e as informações que você publicou são extremamente pertinentes e importantes para as pessoas que estão na minha posição.

Abraço!
Mr. Luz

Olá Mr. Luz, muito obrigado pela visita, bom sempre ficar sabendo dos colegas de área brasileiros vindo para abastecer essa seara. Enfim, na empresa q trabalho programamos quase em todas as principais linguagens : .net, asp, php, Java .... Além de programarmos para cms como sitecore e outros.... Vc acaba tendo q ser multitarefa...

Abraço

Olá Jhon,
Obrigado pelas informações e pelo que entendi também, o inglês e francês tem que estar tinindo, o negócio é estudar sempre.
Valeu

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